quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Escrever diários é dialogar com nossa própria consciência. Registrar nossa presença, deixar um "textemunho" de nossa passagem por este planeta. Ou como escreveu Ana Cristina Cesar: "Você escreve um diário exatamente porque não tem um confidente [...]. Então você vai escrever um diário para suprir este locutor que está te faltando. [...] O impulso básico de escrever é mobilizar alguém, mas você não sabe direito quem é esse alguém". Esse parece ser o caso dos Os Diários de Sylvia Plath 1950-1962.
Uma das mais importantes e mitificadas poetas do século 20, Sylvia Plath (1932-1963) chega ao leitor brasileiro em suas próprias palavras. Ela começou a escrever diários aos 11 anos e desenvolveria o hábito até o rigoroso inverno de 1963, quando se suicidou.
A eleição de Plath como mártir feminista ou vítima da sociedade da época acabaria desviando o foco mais para seus problemas do que para seus poemas. Mesmo tendo morrido cedo e dona de uma poética peculiar, sua obra está no mesmo nível de realização de outras grandes poetas americanas do século 20, como Laura Riding, Marianne Moore, Elizabeth Bishop, Muryel Rukeiser, Lorine Niedecker e H.D.
Autoconhecimento

Diários de Sylvia Plath é importante por revelar Plath como uma escritora obcecada com sua arte. Uma mulher frágil, mas intensa, em busca de uma identidade pessoal e poética. "Primeiro, conhecer a mim mesma, profundamente, e tudo que juntei dos outros com o tempo e o espaço", ela escreve em janeiro de 1958.
Essa busca pelo autoconhecimento está na raiz da poesia americana (Emily Dickinson e Walt Whitman). Os diários vão do seu tempo de estudante universitária nos EUA e Inglaterra, passando por sua experiência como professora e escritora, seu casamento turbulento com o poeta inglês Ted Hughes (1930-1998) e alguns trechos de diários de 1960 a 1962.
A edição é fiel a estilo e características dos originais. Datilografados em folhas soltas ou manuscritos em livros de capa dura, do primeiro ao último registro vemos uma mente intensa tentando mobilizar um interlocutor virtual e dar sentido à vida. Na falta de um interlocutor, e precisando romper o silêncio e a solidão criativa, o diário passa a ser vital: "É impossível 'capturar a vida' se a gente não mantém diários", sublinha a poeta em 1957. Eles passam a ser essenciais também para sua própria evolução poética.
O mais surpreendente na leitura dos diários é perceber um trabalho de linguagem diferente mas não menos consistente do que vemos em sua poesia. Plath revela seu prazer pela escrita: "Amo este caderno, a ponta preta da caneta a deslizar sobre o papel liso".
O resultado vai de trechos exuberantes de prosa poética a esboços para novelas ou poemas futuros que ela não teve tempo de realizar. A não-obrigação de escrever para publicar fez com que a autora se soltasse nos diários, fosse menos "perfeita" que em seus poemas, experimentasse mais em termos de linguagem.
Eles nos permitem espiar não só seus pensamentos mais íntimos, sua luta para se encaixar nos papéis de "boa esposa e mãe" nos conservadores anos da Guerra Fria e do "american way of life", como também verificar o que ela pensava sobre a guerra, a situação da mulher e a literatura contemporânea. São, portanto, um documento de época: "Só o que os anos 40 e 50 superficiais nos deram foram empresários políticos cheios de gim e poesia ruim", ela desabafa.
Mistura de gêneros

Verdadeiro laboratório textual, os diários borram as fronteiras entre gêneros: no livro se misturam fragmentos de prosa, poemas, meditações filosóficas, sonhos, descrições, estruturas e idéias para romances (como A Redoma de Vidro), desenhos e até notas para um filme experimental. A forma mais comum é o monólogo dramático ou solilóquio, em que a mente pensando se torna o impulso da escrita.
Ler os diários é também ter acesso às leituras e interesses de Plath (Robert Lowell, J.D. Salinger, Dostoiévksi, Joyce, Pound, Virginia Woolf), além de sua intensa vida interior. Portanto são de leitura obrigatória para quem quer compreender melhor seu processo criativo-emocional.
A ausência problemática da edição: os dois diários de capa dura referentes aos últimos três anos de vida, que Hughes alegou ter "destruído" para preservar a memória dos dois filhos do casal.
O incrível é que, na introdução a Johnny Panic and the Bible of Dreams (coletânea de prosas da autora "liberadas" por ele em 1976), o próprio "editor" afirmava a importância-chave dos diários para o processo de composição de "Ariel". Com o sumiço desses diários, ficamos sem os registros do período crucial de sua crise interna (após a traição de Hughes no começo de 62 e o fim do casamento). Infelizmente, ficamos também sem acesso ao período que coincide com sua maturação poética e os exuberantes poemas de Ariel, livro que ela deixou organizado na manhã em que morreu.
Apesar de Plath não estar totalmente aí, Diários de Sylvia Plath, na boa tradução de Celso Nogueira, atesta a qualidade de sua escrita e expande nossa compreensão de seu processo criativo.
É uma prova de que ela, mesmo numa prática "doméstica" e privada, era uma artista da palavra em período integral, mais que meramente a poeta suicidada pela sociedade.
Poeta hoje totalmente canonizada, depois de uma dúzia de biografias e um filme (Sylvia, que estréia na próxima sexta), sua vida foi esmiuçada em todos os detalhes e ângulos possíveis, mas sem que se chegasse a um denominador comum sobre quem foi Sylvia Plath. Com os diários, escritos por alguém que quis viver com a intensidade da arte, pelo menos temos sua própria versão.
Rodrigo Garcia Lopes é autor de Sylvia Plath: Poemas (Iluminuras), com Maurício Arruda Mendonça, e Polivox (Azougue)
Então vou explicar pra vc uma coisa que aprendi, Cecília. Eu sempre fui do tipo brigona. Do tipo que quando tem razão, briga até o fim. Confesso, que às vezes até quando não tinha. Isto me manteve inteira, apesar de sempre pela metade. É...metade....porque a outra parte ficava esquecida com os restos de mim que eu perdia nas batalhas. Os meus ideais, e ai, como sou cheia deles, sempre me moveram a brigar pelo que era certo, pelo que eu acreditava. Que eu sou mulher de fibra e de paixão, de vento e de rumo certo.
Mas sabe, querida, chega um ponto....e sempre chegamos a um ponto...que tudo desanda, que vc começa a se questionar se faz certo, se é correto ser do jeito que é, mesmo só sabendo ser assim. E eu cheguei num desses pontos, que cansada e ferida, me descobri assim sem força para batalhas. Você pára e se pergunta, olhando as olheiras no espelho: Eu brigo tanto por quê, raios? E foi aí que eu me senti cansada, como se velha fosse, como se contra a maré tivesse nadado o tempo todo.
E aí em luz, se faz um pensamento incômodo, para quê tanto estardalhaço, se o que é para ser sempre vem, hein Cecília? Para quê? Você acredita em destino? Acredita? É...vc tem direito de escolher, filha. Sim, porque o destino permite também escolher. Mas o que eu ia dizendo era outra coisa...e uma coisa que te digo, pequena, é que quando vc pára para pensar no que vale a pena lutar nesta vida você começa a se dar conta de que são poucas. E eu falo das pequenas coisas mesmo. Preste atenção nas sutilezas....entenda que algumas discussões que não vão levar a lugar nenhum , que a maioria das pessoas é egoísta demais e um tanto cega no que diz respeito às razões do outro. Não ligue para besteiras que vc acha que ofende os seus valores, mas que no fundo, é só pedregulho batendo fraquinho na superfície do seu lago de verdades muito mais profundas. Deixe ir as pessoas que querem ir embora da sua vida, e que talvez não tenham vindo para ocuparem lugar nenhum no seu coração mesmo.
O mundo não é para os fracos, mas os guerreiros se esquecem de que nem tudo vale uma luta e que lutar nem sempre é sinônimo de ser forte. Eu aprendi isso há um tempo atrás, muito mais velha do que vc é hoje, filha. Eu não te privo de aprender isso sozinha, mas gostaria que soubesse que não está sozinha e que não desprendesse tanta energia em batalhas que não vão te levar a lugar nenhum, além das lágrimas nesse travesseiro borrado.

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